Vai-te…

Por que voltaste? Esquecidos
Meus sonhos, e meus amores
Frios, pálidos morreram
Em meu peito. Aquelas flores
Da grinalda da ventura
Tão de lágrimas regada,
Nesta fronte apaixonada
Cingida por tua mão,
Secaram, mortas estão.
Pobre pálida grinalda!
Faltou-lhe um orvalho eterno
De teu belo coração.
Foi de curta duração
Teu amor: não compreendeste
Quanto amor esta alma tinha…
Vai, leviana andorinha,
A outro clima, outro céu:
Meu coração? Já morreu
Para ti e teus amores,
E não pode amar-te — vai!
O hino das minhas dores
Dir-to-á a brisa, à noite,
Num terno, saudoso — ai —
Vai-te — e possa a asa do vento
Que pelas selvas murmura,
Da grinalda da ventura
Que em mim outrora cingiste,
Inda um perfume levar-te,
Morta assim: como um remorso
Do teu olvido… eu amar-te?
Não, não posso; esquece, parte;
Eu não posso amar-te… vai

Machado de Assis

Condão!

Uns olhos me enfeitiçaram,
Uns olhos… foram os teus.
Falaram tanto de amores
Embebidos sobre os meus!

Eram anjos que dormiam
Dessas pálpebras à flor
Nas convulsões palpitantes
Dos alvos sonhos de amor.

Foi à noite… hora das fadas;
Bem lhes sentira o condão;
Mas refletiam tão puras
Os sonhos do coração!

Como ao sol do meio-dia
Dorme a onda à flor do mar,
Eu dormi, — pobre insensato,
Ao fogo do teu olhar…

Pobre, doida mariposa,
Perdi-me… — pecados meus!
Na chama que me atraía,
No fogo dos olhos teus.

Venci protestos de outrora,
Moirei no teu alcorão,
E vim purgar nesses olhos
Pecados do coração.

Pois bem hajam os teus olhos,
Onde um tal condão achei:
Doido inseto em torno à chama,
Todo aí me queimarei.

Machado de Assis