Se miran, se presienten, se desean…

TormentoSe miran, se presienten, se desean,
se acarician, se besan, se desnudan,
se respiran, se acuestan, se olfatean,
se penetran, se chupan, se demudan,
se adormecen, despiertan, se iluminan,
se codician, se palpan, se fascinan,
se mastican, se gustan, se babean,
se confunden, se acoplan, se disgregan,
se aletargan, fallecen, se reintegran,
se distienden, se enarcan, se menean,
se retuercen, se estiran, se caldean,
se estrangunlan, se aprietan, se estremecen,
se tantean, se juntan, desfallecen,
se repelen, se enervan, se apetecen,
se acometen, se enlazan, se entrechocan,
se agazapan, se apresan, se dislocan,
se perforan, se incrustan, se acribillan,
se remachan, se injertan, se atornillan,
se desmayan, reviven, resplandecen,
se contemplan, se inflaman, se enloquecen,
se derriten, se sueldan, se calcinan,
se desgarran, se muerden, se asesinan,
resucitan, se buscan, se refriegan,
se rehúyen, se evaden y se entregan.

Poema de Oliverio Girondo. (Buenos Aires, 1871 – 1967)

Los Amorosos.

1-910-rogelio-de-eugusquiza

Los amorosos callan.
El amor es el silencio más fino,
el más tembloroso, el más insoportable.
Los amorosos buscan,
los amorosos son los que abandonan,
son los que cambian, los que olvidan.
Su corazón les dice que nunca han de encontrar,
no encuentran, buscan.
Los amorosos andan como locos
porque están solos, solos, solos,
entregándose, dándose a cada rato,
llorando porque no salvan al amor.
Les preocupa el amor. Los amorosos
viven al día, no pueden hacer más, no saben.
Siempre se están yendo,
siempre, hacia alguna parte.
Esperan,
no esperan nada, pero esperan.
Saben que nunca han de encontrar.
El amor es la prórroga perpetua,
siempre el paso siguiente, el otro, el otro.
Los amorosos son los insaciables,
los que siempre -¡que bueno!- han de estar solos.
Los amorosos son la hidra del cuento.
Tienen serpientes en lugar de brazos.
Las venas del cuello se les hinchan
también como serpientes para asfixiarlos.
Los amorosos no pueden dormir
porque si se duermen se los comen los gusanos.
En la oscuridad abren los ojos
y les cae en ellos el espanto.
Encuentran alacranes bajo la sábana
y su cama flota como sobre un lago.
Los amorosos son locos, sólo locos,
sin Dios y sin diablo.
Los amorosos salen de sus cuevas
temblorosos, hambrientos,
a cazar fantasmas.
Se ríen de las gentes que lo saben todo,
de las que aman a perpetuidad, verídicamente,
de las que creen en el amor
como una lámpara de inagotable aceite.
Los amorosos juegan a coger el agua,
a tatuar el humo, a no irse.
Juegan el largo, el triste juego del amor.
Nadie ha de resignarse.
Dicen que nadie ha de resignarse.
Los amorosos se avergüenzan de toda conformación.
Vacíos, pero vacíos de una a otra costilla,
la muerte les fermenta detrás de los ojos,
y ellos caminan, lloran hasta la madrugada
en que trenes y gallos se despiden dolorosamente.
Les llega a veces un olor a tierra recién nacida,
a mujeres que duermen con la mano en el sexo,
complacidas,
a arroyos de agua tierna y a cocinas.
Los amorosos se ponen a cantar entre labios
una canción no aprendida,
y se van llorando, llorando,
la hermosa vida.

Jaime Sabines

No Es Nada de Tu Cuerpo.

bacante-con-uvas-paul-merwart

No es nada de tu cuerpo
ni tu piel, ni tus ojos, ni tu vientre,
ni ese lugar secreto que los dos conocemos,
fosa de nuestra muerte, final de nuestro entierro.
No es tu boca -tu boca
que es igual que tu sexo-,
ni la reunión exacta de tus pechos,
ni tu espalda dulcísima y suave,
ni tu ombligo en que bebo.
Ni son tus muslos duros como el día,
ni tus rodillas de marfil al fuego,
ni tus pies diminutos y sangrantes,
ni tu olor, ni tu pelo.
No es tu mirada -¿qué es una mirada?-
triste luz descarriada, paz sin dueño,
ni el álbum de tu oído, ni tus voces,
ni las ojeras que te deja el sueño.
Ni es tu lengua de víbora tampoco,
flecha de avispas en el aire ciego,
ni la humedad caliente de tu asfixia
que sostiene tu beso.
No es nada de tu cuerpo,
ni una brizna, ni un pétalo,
ni una gota, ni un grano, ni un momento.
Es sólo este lugar donde estuviste,
estos mis brazos tercos.

Jaime Sabines

(Tuxtla Gutierrez, México, 1926 – 1999)
Longe das tendências e alheios a qualquer santuário literário, era um operador solitário e desesperançado cujo caminho ficou longe do que cruzaram seus contemporâneos… Há em sua poesia um resíduo de amargura, que é expressa em uma obra em prosa de violência, expressa na linguagem cotidiana, quase vulgar, marcado pela concepção trágica do amor e da angústia da solidão. Seu estilo, um brilho furioso e espontâneo; .
Para mim , sua poesia fala como ninguem, da intimidade do amor experimentado!!!

Isadora.

Voz…

Z3357Que o vento leve a minha voz
Aonde não consigo alcançar.
Que ele faça poder perceber
O som das minhas ilusões,
E que possa também descrever
Todas as minhas razões,
De gritar este grito tão surdo
Cansado de tanto estar mudo
E que agora se faz despertar
Rompendo o silêncio atroz
Que todos ouçam o que eu digo
Falado pela voz do vento,

Que deve soprar à cada momento
Dizendo que eu quero ficar contigo.
E tu, não deves responder !
Pois, se duvidas, como crer
Que a voz que o vento te leva
É a mesma que enleva
O bem que trago guardado.
Que apesar de há tanto trancado
Robusto e contido, onde ninguém vê
Eu o guardei só para você.

Fernando Spanghero.

Poema das Curvas.

Z1666Não é o ângulo reto que me atrai.
Nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem.
O que me atrai é a curva livre e sensual.
A curva que encontro nas montanhas do meu País,
no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar,
nas nuvens do céu, no corpo da mulher preferida.
De curvas é feito todo o Universo,
o Universo curvo de Einstein.

Oscar Niemeyer (Fevereiro de 1988)

Achei dispensavel qualquer imagem, pois pensar em Oscar Niemeyer, é trazer a mente sua MAGNIFICA OBRA! Seu nome é sua propria imagem!!!
Oscar Niemeyer não morreu, seu corpo mudou de forma, deixou a forma humana e se tornou parte da curva livre do VENTO!!!
(Comentario: Isadora)

Ser Mulher …


Ser mulher, vir à luz trazendo a alma talhada
para os gozos da vida; a liberdade e o amor;
tentar da glória a etérea e altívola escalada,
na eterna aspiração de um sonho superior…

Ser mulher, desejar outra alma pura e alada
para poder, com ela, o infinito transpor;
sentir a vida triste, insípida, isolada,
buscar um companheiro e encontrar um senhor…

Ser mulher, calcular todo o infinito curto
para a larga expansão do desejado surto,
no ascenso espiritual aos perfeitos ideais…

Ser mulher, e, oh! atroz, tantálica tristeza!
ficar na vida qual uma águia inerte, presa
nos pesados grilhões dos preceitos sociais!

Gilka Machdo.

Publicado no livro Cristais partidos (1915).

Lépida e leve!

Lépida e leve
em teu labor que, de expressões à míngua,
O verso não descreve…
Lépida e leve,
guardas, ó língua, em seu labor,
gostos de afagos de sabor.

És tão mansa e macia,
que teu nome a ti mesmo acaricia,
que teu nome por ti roça, flexuosamente, como rítmica serpente,
e se faz menos rudo,
o vocábulo, ao teu contacto de veludo.

Dominadora do desejo humano,
estatuária da palavra,
ódio, paixão, mentira, desengano,
por ti que incêndio no Universo lavra!…
És o réptil que voa,
o divino pecado
que as asas musicais, às vezes, solta, à toa,
e que a Terra povoa e despovoa,
quando é de seu agrado.

Sol dos ouvidos, sabiá do tato,
ó língua-idéia, ó língua-sensação,
em que olvido insensato,
em que tolo recato,
te hão deixado o louvor, a exaltação!

Tu que irradiar pudeste os mais formosos poemas!
Tu que orquestrar soubeste as carícias supremas!
Dás corpo ao beijo, dás antera à boca, és um tateio de
alucinação,
és o elástico da alma…

Ó minha louca
língua, do meu Amor penetra a boca,
passa-lhe em todo senso tua mão,
enche-o de mim, deixa-me oca…
Tenho certeza, minha louca,
de lhe dar a morder em ti meu coração!…

Língua do meu Amor velosa e doce,
que me convences de que sou frase,
que me contornas, que me veste quase,
como se o corpo meu de ti vindo me fosse.
Língua que me cativas, que me enleias
os surtos de ave estranha,
em linhas longas de invisíveis teias,
de que és, há tanto, habilidosa aranha…

Língua-lâmina, língua-labareda,
língua-linfa, coleando, em deslizes de seda…
Força inféria e divina
faz com que o bem e o mal resumas,
língua-cáustica, língua-cocaína,
língua de mel, língua de plumas?…

Amo-te as sugestões gloriosas e funestas,
amo-te como todas as mulheres
te amam, ó língua-lama, ó língua-resplendor,
pela carne de som que à idéia emprestas
e pelas frases mudas que proferes
nos silêncios de Amor!…

Gilka Machado.

Sensual…

Quando, longe de ti, solitaria, medito neste affecto pagão que envergonhada oculto,
vem-me ás narinas, logo, o perfume exquisito que o teu corpo desprende e ha no teu proprio vulto.

A febril confissão deste affecto infinito há muito que, medrosa,
em meus labios sepulto,
pois teu lascivo olhar em mim pregado, fito,
á minha castidade é como que um insulto.

Si acaso te achas longe, a collossal barreira dos protestos que, outr’ora, eu fizera a mim mesma
de orgulhosa virtude, erige-se altaneira.

Mas, si estás ao meu lado, a barreira desaba,
e sinto da volupia a ascosa e fria lêsma
minha carne polluir com repugnante baba…

Gilka Machado.

Volúpia…

Tenho-te, do meu sangue alongada nos veios,
à tua sensação me alheio a todo o ambiente;
os meus versos estão completamente cheios
do teu veneno forte, invencível e fluente.

Por te trazer em mim, adquiri-os, tomei-os,
o teu modo sutil, o teu gesto indolente.
Por te trazer em mim moldei-me aos teus coleios,
minha íntima, nervosa e rúbida serpente.

Teu veneno letal torna-me os olhos baços,
e a alma pura que trago e que te repudia,
inutilmente anseia esquivar-se aos teus laços.

Teu veneno letal torna-me o corpo langue,
numa circulação longa, lenta, macia,
a subir e a descer, no curso do meu sangue.

Gilka Machado.

Particularidades …

Muitas vezes, a sós, eu me analiso e estudo,
os meus gostos crimino e busco,
em vão, torcê-los;
é incrível a paixão que me absorve por tudo
quanto é sedoso, suave ao tato: a coma…
Os pêlos…

Amo as noites de luar porque são de veludo,
delicio-me quando, acaso, sinto,
pelos meus frágeis membros,
sobre o meu corpo desnudo
em carícias sutis,
rolarem-me os cabelos.

Pela fria estação, que aos mais seres eriça,
andam-me pelo corpo espasmos repetidos,
às luvas de camurça, às boas, à pelica…

O meu tato se estende a todos os sentidos;
sou toda languidez, sonolência, preguiça,
se me quedo a fitar tapetes estendidos.

Gilka Machdo.
Publicado no livro Estados da Alma (1917).