Sete cores — sete notas erradias,
sete notas da música do olhar,
sete notas de etéreas melodias,
de sons encantadores
que se compõem entre si,
formando outras tantas cores,
do cinzento que cisma ao jade que sorri.
Há momentos em que a cor nos modifica os sentimentos,
ora fazendo bem, ora fazendo mal;
em tons calmos ou violentos,
a cor é sempre comunicativa,
amortece, reaviva,
tal a sua expressão emocional.
Lançai olhares investigadores
para a mancha dos poentes:
há cores que são ecos de outras cores,
cores sem vibrações, cores esfalecentes,
melodias que o olhar somente escuta,
na quietude absoluta,
ao Sol se pôr…
Quem há que inda não tenha percebido
o subjetivo ruído
da harmonia da cor?
A Cor é o aroma em corpo
e embriaga pelo olhar.
Cor é soluço, cor é gargalhada,
cor é lamento, é suspiro,
e grito de alma desesperada!
Muitas vezes a cor ao som prefiro
porque a minha emoção é igual à sua,
parada, estatelada
dizendo tudo, sem que diga nada,
no prazer ou na dor.
Olhar a cor é ouvi-la,
numa expressão tranquila,
falar de todas as sensações
caladas, dos corações;
no entanto, a cor tem brados,
mas brados estrangulados,
mágoas contidas,
mudo querer,
ânsia, fervor, emotividade
de desconhecidas vidas,
que se ficaram na vontade,
que não conseguiram ser…
Cores são vagas, sugestivas toadas…
Cores são emoções paralisadas…
Gilka Machdo.
Gilka da Costa de Melo Machado nasceu no Rio de Janeiro (RJ) no dia 12 de março de 1893. Casou-se com o poeta Rodolfo de Melo Machado em 1910. Teve dois filhos: Helio e Eros. O marido, Rodolfo, faleceu em 1923. Seu primeiro livro de poesia, “Cristais Partidos”, foi publicado em 1915. Em 1916 foi publicada sua conferência “A Revelação dos Perfumes”, no Rio de Janeiro. Em 1917 publicou “Estados de Alma” e, em seguida, no ano de 1918, “Poesias, 1915/1917”, “Mulher Nua”, em 1922, “O Grande Amor”, “Meu Glorioso Pecado”, em 1928, e “Carne e Alma”, em 1931. Em 1932, foi publicada em Cochabamba, Bolívia, a antologia “Sonetos y Poemas de Gilka Machado”, com prefácio Antonio Capdeville. No ano seguinte, a escritora foi eleita “a maior poetisa do Brasil”, por concurso da revista “O Malho”, do Rio de Janeiro. “Sublimação” foi publicada em 1938, “Meu Rosto” em 1947, “Velha Poesia” em 1968 e suas “Poesias Completas” editadas em 1978. Em 1979, foi agraciada com o prêmio Machado de Assis pela Academia Brasileira de Letras. Nesse mesmo ano a Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro prestou homenagem à mulher brasileira na pessoa da poeta. Escreveu versos, sendo simbolista, considerados escandalosos no começo do século XX, por seu marcante erotismo. Faleceu no Rio de Janeiro (RJ), no dia 11 de dezembro de 1980.
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